Árvore sem folhas; nua e coberta de flores III

foto: paulo pacheco

Em cada paisagem há sempre um deus escondido

Raul Brandão, in Os Pescadores

 

1. E veio o sábado com uma tremenda maratona de espetáculos. O primeiro, logo no início da tarde, levou ao palco do grande auditório o gebo e a sombra pela mão do Teatro Experimental do Cano. Era suposto que nos fosse mostrado um dos textos mais expostos de Raul Brandão, basta olhar para o que Manoel de Oliveira fez no cinema, ou para o espetáculo com que, na quarta-feira anterior, o Teatro Oficina nos deliciou. Infelizmente não foi assim. E os senhores que estiveram sob as luzes do palco – de costas para o melhor palco de Guimarães (quem os teria autorizados a estarem ali?) – deixaram uma sombra negra sobre o teatro. Tive, mais do que uma vez vontade de abandonar a cadeira, mas aguentando até ao fim, só posso dizer: por favor, não matem o teatro, a representação e a possibilidade de fazer coisas lindas.

 

2. A tarde continuou no café concerto. Com a pedra ainda espera dar flor (a partir das crónicas de teatro), CETE – Convívio e Teatro Experimental. O dia ganhava outra intensidade e colocava o Teatro no seu verdadeiro lugar. Na colocação de voz, na agilidade dos atores e na genica das palavras. Um grupo de meninas mostrou com se deve estar em palco. Estava salva a tarde teatral de um sábado ventoso. E ficou claramente vincado que há grupos de teatro de amadores que têm que viver intensamente os seus dias. Porque a sua qualidade não pode ser vista só às vezes.

 

3. Até que, antes de jantar, o Teatro da Coelima mostrou o doido e a morte, outra vez no palco do grande auditório. Voltava, mais um vez o teatro. Gostei da nova atitude deste grupo de Pevidém. É bom perceber que há dinâmicas novas que engrandecem os grupos e atitudes que mostram como sair do tradicional é o melhor caminho.

 

4. E chegava o momento importante. Depois de jantar e no grande auditório, jesus cristo em lisboa com Grupo Citânia – Associação Juvenil, Cem Cenas, Grupo de Teatro da ADCL, Grupo de Teatro de Campelos e Grupo de Teatro da ARCAP.

Que se pode dizer deste espetáculo? Felizmente em Guimarães há grandes atores e grupos de teatro de amadores que querem aprender e já se fizeram ao palco da mudança de atitude. Um parêntesis para vincar a atitude ‘profissional’ dos ‘meninos’ do grupo Cem Cenas. Foram tão bons! De há dois anos a esta parte o que mudou!

Mas as duas horas de um Jesus Cristo em Lisboa teve um mérito que tem que ser vincado: mostrou um caminho, um caminho que se faz com todos. Foi um espetáculo que mostrou, quase na perfeição, a realidade do teatro de amadores em terras de D. Afonso. Com realidades muito próximas do profissionalismo (alguém terá reparado na encenação que esteve sob os atores do Citânia, que – outra vez! – mostraram a encenação (quase) perfeita? E num senhor de nome Bruno Laborinho? É um ator que não pode ficar só entre Braga e Briteiros.